domingo, 23 de setembro de 2012

"Enquanto o escultor só tira, o pintor sempre põe." (Carreira). 
" Para Freud(1905) o psicanalista é como o escultor que atua com atos, retirando da pedra o que recobre as formas da estátua nela contidas. 
(Gloria Sadala)

sábado, 28 de julho de 2012

"Através de nenhum outro traço julgamos caracterizar melhor a cultura do que através da estima e do cultivo das atividades psíquicas superiores, das realizações intelectuais, científicas e artísticas, do papel dirigente concedido às ideias na vida das pessoas." 
 (S. Freud - "O mal estar na Cultura")

(Vicent Van Gogh)

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Estrutura da Personalidade (S. Freud)




Freud propôs os conceitos de Id, Ego e Superego.

O "ID", a grosso modo, correspondente à sua noção inicial de Inconsciente, seria a parte mais primitiva e menos acessível da personalidade. Freud chamou-o de "... um caldeirão cheio de excitações fervescentes. [O id] desconhece o julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade". As forças do id buscam a satisfação imediata sem tomar conhecimento das circunstâncias da realidade. Funcionam de acordo com o Princípio do Prazer, preocupadas em reduzir a tensão mediante a busca do prazer e evitando a dor. O id contém a nossa energia psíquica básica, ou a libido, e se expressa por meio da redução de tensão. Assim, agimos na tentativa de reduzir essa tensão a um nível mais tolerável. Para satisfazer às necessidades e manter um nìvel confortável de tensão, é necessário interagir com o mundo real. Por exemplo: as pessoas famintas devem ir em busca de comida, caso queiram descarregar a tensão induzida pela fome. Portanto, é necessário estabelecer alguma espécie de ligação adequada entre as demandas do id e a realidade.

 O Ego serve como mediador, um facilitador da interação entre o id e as circunstâncias do mundo externo. O ego representa a razão ou a racionalidade, ao contrário da paixão insistente e irracional do id. Enquanto o id anseia cegamente e ignora a realidade, o ego tem consciência da realidade, manipula-a e, dessa forma, regula o id. O ego obedece ao Princípio da Realidade, refreando as demandas em busca do prazer até encontrar o objeto apropriado para satisfazer as suas necessidades e reduzir a tensão. O ego não existe sem o id; ao contrário, o ego extrai sua força do id. O ego existe para ajudar o id e está constantemente lutando para satisfazer os instintos do id.

A terceira parte da estrutura da personalidade definida por Freud, foi o Superego, que se desenvolve  desde o inicio da vida, quando a criança assimila as regras de comportamento ensinadas pelos pais ou responsáveis mediante o sistema de recompensas e punições. O comportamento inadequado  sujeito à punição torna-se parte da consciência da criança, uma porção do superego. O comportamento aceitável para os pais ou para o grupo social e que proporcione a recompensa torna-se parte do Ego-Ideal, a outra porção do superego. Dessa forma, o comportamento é determinado inicialmente pelas ações dos pais; no entanto, uma vez formado o superego, o comportamento é determinado pelo autocontrole. Nesse ponto, a pessoa administra as próprias recompensas ou punições. 

O superego representa a moralidade. Freud descreveu-o como o "defensor da luta em busca da perfeição - o superego é, resumindo, o máximo assimilado psicologicamente pelo indivíduo do que é considerado o lado superior da vida humana". Observe-se então, que, o superego estará em conflito com o id. Ao contrário do ego, que tenta adiar a satisfação do id para momentos e lugares mais adequados, o superego tenta inibir a completa satisfação do id.

Assim, há uma constante luta dentro da personalidade quando o ego é pressionado pelas forças contrárias insistentes. O ego deve tentar retardar os ímpetos agressivos e sexuais do id, perceber e manipular a realidade para aliviar a tensão resultante, e lidar com a busca do superego pela perfeição. E, quando o ego é pressionado demais, o resultado é a condição definida por  Freud como ansiedade.

Id: fonte de energia psíquica e o aspecto da personalidade relacionado aos instintos.

Ego: aspecto racional da personalidade responsável pelo controle dos instintos. 

Superego: o aspecto moral da personalidade, produto da internalização dos valores e padrões recebidos dos pais e da sociedade.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Suponhamos que alguém se esqueça de um compromisso que prometeu manter com alguma outra pessoa; a razão mais freqüente para isso será, sem dúvida, uma franca rejeição ao encontro com essa pessoa. Contudo, em um caso assim a análise poderia demonstrar que a intenção perturbadora não se referiu a essa pessoa, mas estava dirigida contra o lugar planejado para o encontro, e foi evitado por conta de uma lembrança desagradável referente ao lugar." 
(S. Freud)

domingo, 8 de julho de 2012


‎"As palavras, originalmente, eram mágicas e até os dias atuais conservaram muito do seu antigo poder mágico. Por meio de palavras uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero [...]. Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens". 
(S. Freud)

quinta-feira, 5 de julho de 2012


‎"O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer. No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante. Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação dessa "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.
(S. Freud)


domingo, 1 de julho de 2012



O termo “psi”, bastante utilizado pelas pessoas, muitas vezes pode ser permeado de confusão quanto aos significados, principalmente quando se refere aos profissionais indicados por este termo: psiquiatra, psicólogo ou psicanalista.


O psiquiatra é um profissional da medicina que após ter concluído sua formação, opta pela especialização em psiquiatria. Esta é realizada em 2 ou 3 anos e abrange estudos em neurologia, psicofarmacologia e treinamento específico para diferentes modalidades de atendimento, tendo por objetivo tratar as doenças mentais. Ele é apto a prescrever medicamentos, habilidade não designada ao psicólogo. Em alguns casos, a psicoterapia e o tratamento psiquiátrico devem ser aliados.

O psicólogo tem formação superior em psicologia, ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano. O curso tem duração de 4 anos para o bacharelado e licenciatura e 5 anos para obtenção do título de psicólogo. No decorrer do curso a teoria é complementada por estágios supervisionados que habilitam o psicólogo a realizar psicodiagnóstico, psicoterapia, orientação, entre outras. Pode atuar no campo da psicologia clínica, escolar, social, do trabalho, entre outras.

O profissional pode optar por um curso de formação em uma abordagem teórica, como a gestalt-terapia, a psicanálise, a terapia cognitivo-comportamental.

O psicanalista é o profissional que possui uma formação em psicanálise, método terapêutico criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de uma pessoa, baseada nas associações livres e na transferência. Segundo a instituição formadora, o psicanalista pode ter formação em diferentes áreas de ensino superior.

(Patrícia Lopes)


quinta-feira, 28 de junho de 2012

‎"Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os sintomas." 
(S. Freud)


quarta-feira, 27 de junho de 2012

"Torna-se um louco alguém que, a maioria das vezes, não encontra ninguém para ajudá-lo a tornar real o seu delírio."
 (Freud - O Mal-Estar na Civilização)



quinta-feira, 21 de junho de 2012

Arte e Psicanálise - Frida Kahlo

Magdalena Carmem Frida Kahlo y Calderon é considerada a mais importante pintora mexicana. Começou a pintar olhando-se num espelho que a mãe pendurou por cima de sua cama. Muitas de suas pinturas são auto-retratos:" Eu pinto-me a mim própria porque estou muitas vezes sózinha e porque sou o assunto que conheço melhor".

Nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacan no México. Militante comunista e agitadora cultural, tem uma vasta produção artística e teve uma biografia singular marcada por grandes tragédias. Quando ainda pequena, aos 6 anos de idade, contraiu poliomielite, o que a fez usar saias longas como as das indígenas mexicanas para encobrir as marcas da doença. Aos 18 anos sofreu um grave acidente de bonde, teve fraturas múltiplas e foi submetida a 35 cirurgias, ficando impossibilitada de ter filhos. Casou-se com Diego Rivera, o pintor mexicano mais importante do século XX . Socialista e 21 anos mais velho que ela, formavam o casal de artistas mais famosos e originais da época. Com um casamento conturbado pelas numerosas traições do marido, Frida também teve seus romances extraconjugais, entre eles, León Trotski, mas Diego foi sua grande obsessão.

Seus quadros são fortes nos traços e nas cores e refletem os momentos tumultuados de dor e paixão que viveu: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade".

Em 1954, Frida Kahlo foi encontrada morta. A última anotação em seu diário permite pensar na hipótese de suicídio: “Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais.”

The Two Fridas - Frida Kahlo

terça-feira, 19 de junho de 2012

Qual é a sua fantasia?
 - De que fantasia você está falando?
 Desse termo em português para se referir ao traje de carnaval? Em inglês e também em francês é "costume". . 
"Em outros termos, qual o figurino que você vai emprestar a sua fantasia?"
 - Vou sair sem fantasia.
 "Até parece que é possível estar sem fantasia!" 
- Vou fantasiado de Eu mesmo!
 "E quem disse que esse "Eu" não é uma fantasia?" 
(Antonio Quinet) 


Paul Cézanne

sábado, 16 de junho de 2012

Melancolia

"A autotortura na melancolia, sem dúvida agradável, significa, do mesmo modo que o fenômeno correspondente na neurose obsessiva, uma satisfação das tendências do sadismo e do ódio relacionadas a um objeto, que retornaram ao próprio eu do indivíduo nas formas que vimos examinando. Via de regra, em ambas as desordens, os pacientes ainda conseguem, pelo caminho indireto da autopunição, vingar-se do objeto original e torturar o ente amado através de sua doença, à qual recorrem a fim de evitar a necessidade de expressar abertamente sua hostilidade para com ele. Afinal de contas, a pessoa que ocasionou a desordem emocional do paciente, e na qual na doença se centraliza, em geral se encontra eu seu ambiente imediato". 
(Freud em 'Luto e Melancolia')



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Arte e Loucura


Parece-me impróprio chamar de arte ou de artistas aos psicóticos e sua produtividade. Neles encontramos um universo mórbido, um mundo de temor e angústia, suscitado pela invasão de um caos que nasce no sujeito do inconsciente. O desenho e a pintura na loucura repre­sentam uma reação de defesa primitiva contra a grande angústia provocada pela invasão da psicose. Isto lhes permite uma nova or­ganização, a um nível inferior, dentro de um mundo alterado. 
Na produção do psicótico podemos perceber a perda de contato com o mundo exterior, a dissociação da personalidade, e a irrealidade profunda dos mecanismos do delírio. Por vezes, essa criação representa um ato compensador, isto é, uma forma de reação contra a enfermi­dade, uma tentativa de criar, recriar seu mundo caótico, uma tentativa de domínio sobre as tendências destrutivas da atividade mental. Esta atitude permite aos psicóticos, com freqüência, abandonar sua agressividade brutal e integrar-se ao meio que o cerca.
(Regina Fernandes)


Arthur Bispo do Rosário
“Os doentes mentais são como beija-flores”, definia Bispo. “Estão sempre a dois metros do chão”. Para reconstruir o mundo, o sergipano considerado louco produziu uma das mais intrigantes obras artísticas do País. Mas não se dava o crédito: “São as vozes que me mandam fazer desta maneira”.

domingo, 10 de junho de 2012

“ Quanto mais o objeto é presentificado enquanto imitado mais abre-nos ele essa dimensão onde a ilusão se quebra e visa outra coisa(...) Se a arte imita, trata-se de um sombra de sombra, uma imitação de imitação" 
(Lacan, A Ética da psicanálise)


René Magritte

sábado, 9 de junho de 2012

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música".
( Friedrich Nietzsche)



terça-feira, 5 de junho de 2012

Toxicomania uma articulação com o Princípio do Prazer


Desde os tempos mais antigos o homem, nessa misteriosa complexidade do ser falante, tem feito de tudo para lidar com suas inquietantes questões e conseguir jogar o ilusório jogo da vida. Freud, em seu texto “O Mal-Estar na Cultura”, nos aponta para tais reflexões ao enfatizar o impossível a ser suportado da civilização. Diz ele: 
"A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos dispensar as medidas paliativas. (...) Existem talvez três medidas desse tipo: derivativos poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraça (Atividades Científicas): satisfações substitutivas, que a diminuem (Artes); e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a ela". 
O mal-estar é inerente ao homem, portanto substituir o desprazer, oriundo tanto do mundo externo como de nossos relacionamentos com os outros, seria para Freud um motivo de se buscar os efeitos mágicos e paradisíacos das drogas. A droga, ao alterar no ser falante sua identidade tanto corporal como psíquica, e conseqüentemente sua percepção do mundo, substitui o sentimento de fragilidade pela ilusão da superação da angústia e dos sofrimentos psíquicos. Uma questão fica evidente: o que leva uma pessoa a se alienar em uma conduta onde se torna “objeto do objeto”, na qual existe uma compulsão irrefreável e incessante de voltar sempre à droga? O que se passa com o sujeito que não pode mais parar? 
Na toxicomania, o sujeito elege a droga como objeto ideal, isto é, como objeto causa de desejo, o que está em questão é o próprio desejo. Desta forma, ele é regido pela pulsão de morte, é desimplicado da fala do outro, se manifesta através da passagem ao ato, é um sujeito assintomático. Nele estão presentes a passividade, alienação, e a submissão e, portanto, a independência para com os demais objetos da vida. O que o sujeito busca na droga é o gozo imediato no corpo, ela se apresenta para ele pela via do abuso numa tentativa de amortecer o mal-estar e a angústia. 
O consumo compulsivo de drogas deve ser vinculado à organização narcisista dos sujeitos, e a psicanálise vem discutir o vínculo primitivo e seus caminhos. Nesse viés, a toxicomania é entendida como expressão da tentativa incessante feita pelo sujeito para recriar a fantasia de onipotência que caracteriza o eu-ideal. Os fracassos do processo de socialização, abordados no contexto da problemática da castração, são apresentados como responsáveis pela situação de impossibilidade em que se encontra o sujeito de sair de seu encerramento narcísico, sendo esse fracasso responsável ainda pela angustia por ele experimentada face à fantasia de ameaça de castração.

Baseados nesse contexto podemos perceber o dependente químico padecendo do fracasso da metáfora paterna, (Nome do Pai), sofrendo as conseqüências de algo dessa lei que se mostra inominável. A passagem ao ato é a “linguagem” por excelência dessa falta de articulação significante, e ele se encontra então numa posição de total submissão ao gozo do Outro, ao Real do gozo pulsional.
Pela via da psicanálise, pensar a questão da dependência química é privilegiar o lugar que o objeto ocupa na estrutura do sujeito. È se dar conta da necessidade de um olhar atento para a economia dos investimentos, pois todo o funcionamento do aparelho psíquico é descrito nestes termos (principio econômico). É então, somente a partir dessa articulação sujeito-objeto que se pode interrogar o que se passa pelo viés da dependência.
Logo, podemos inferir que o princípio de prazer não é sozinho o grande responsável por essa problemática. Por mais que se recorra às drogas com a intenção de evitar o desprazer originário, de obter prazer devido ao funcionamento do processo primário do aparelho psíquico, através da alucinação do desejo, o que está em jogo é também o "princípio econômico", especificamente no que diz respeito à sua força motriz, a energia pulsional. É designando a droga como único objeto de investimento pulsional, ou seja, ao investi-la de uma roupagem de objeto ideal, que o toxicômano se encontra totalmente identificado, colado a ela.
Não poderíamos finalizar esse tema, sem apontar a difusão maciça do consumo de drogas nas sociedades pós-moderna, que se transformou numa grave questão social. A toxicomania não é apenas um sintoma individual dos sujeitos, mas também um mal social. Ela é uma parceira única do discurso capitalista que rege a sociedade nos dias de hoje, pois é um fenômeno social ligado à “sociedade espetáculo” que produz os ideais de uma cultura narcísica, que forma subjetividades globais, homogeneizando as diferenças. A toxicomania não pode ser pensada sem o laço social, sem uma comunhão com a cultura. Torna-se assim necessário, nesta questão, interrogar-nos também sobre as características fundamentais da civilização moderna e do paradigma que sustenta a sua construção. 
(Regina Fernandes)


                                          (Edouard Manet)


domingo, 3 de junho de 2012

"O homem que foi o favorito de sua mãe mantém por toda a vida a sensação de conquistador e a confiança no sucesso, a qual muitas vezes induz ao sucesso real." 
(Sigmund Freud)


               
(Freud e sua mãe Amalia, que se referia a ele como "my golden Sigi")

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O ser humano encontra a saída através da palavra.
Através da palavra ele encontra o universo.
A arte é a a palavra transformada em outros mundos.
(Carlos Eduardo Leal)

                                                  (Claude Monet)

quarta-feira, 30 de maio de 2012


"Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, sem querer." 
(S. Freud)



terça-feira, 29 de maio de 2012

Um pouquinho do Divã


 
"O que seria do mundo se todos fossem bem ajustados? Haveria um tédio sem fim". (Carl G. Jung)


O século XIX marca o advento de um saber que determina e produz um desmantelamento em relação às idéias que circulavam na época sobre a questão da sexualidade humana e das “pacientes nervosas”. Inaugura então uma explicação para a HISTERIA no campo da psicanálise, a fim de livrá-la das interpretações baseadas na religião ou apenas na simulação.
No entanto, as mulheres do século XXI, jovens, ricas, inteligentes e sociáveis, ainda sofrem do mesmo desejo insatisfeito de que sofriam as histéricas de outrora. A preocupação com o corpo, a falha frente ao ideal de perfeição, faz com que se apóiem em modernas ortopedias corporais, possíveis substitutos das paralisias, contraturas, cegueiras de antigamente. Enquanto a histérica de hoje continua à procura desse ideal de perfeição, tanto corporal quanto intelectual e emotivo - sua marca patente é a insatisfação, pois a histérica não corre atrás de seu desejo, mas visa um ideal, e por isso está sempre se queixando, tecendo justificativas para continuar naquele lugar de manter o outro idealizado - seu gozo continua como sempre em busca de reconhecimento, e na sua procura excessiva e contraditória, na sua tristeza mal compreendida, ela é criticada por uns e medicada por outros.
A partir de 1900, Freud substitui a idéia de que a histeria tinha em sua origem uma representação inconsciente, pela angústia provocada por uma fantasia inconsciente. A partir daí a histeria estava relacionada à angústia de castração, quando se coloca em jogo a possibilidade de um dano narcísico bastante significativo. Desta forma surge a possibilidade para o sujeito de se encontrar frente à angústia, fator decisivo para a estruturação da neurose. Isso fala da divisão do sujeito, a histeria mostra que o sujeito não é uma unidade, ele é cindido, é divido, e a sexualidade fala desse desencontro, dessa falha do sujeito que a histérica não quer saber por causa de seu sonho de idealização. A histérica precisa ocultar sua falha, para isso ressalta todo o resto, constituindo um jogo de ocultamento/superexposição. É nessa superexposição que ela "enche os olhos", próprios e alheios, não deixando brecha para que ocorra um encontro com a tão temida e angustiante falta. Essa lógica fálica nos diz de um terror ao desamparo, forma máxima do nada. Faz-se necessária, por uma questão de sobrevivência psíquica, a crença que alguém pode ter o falo, completude, forma máxima do tudo: essa é a busca da histérica, o tudo por terror ao nada.
Ao falar da histérica e de seu desejo insatisfeito, é importante não deixar de fazer aqui uma rápida referência à ANOREXIA, que é situada no quadro geral da histeria, pois esse é um sofrimento tipicamente histérico. O desejo da anoréxica, em geral mulheres jovens, é querer que a insatisfação esteja em toda parte, que só exista insatisfação, tanto da necessidade quanto do desejo. A anorexia consiste em dizer: “... Não, não quero comer para não me satisfazer, e não quero me satisfazer para ter certeza de que meu desejo permanecerá intacto”.
Portanto, a anorexia pode ser vista como um grito contra qualquer satisfação e uma obstinada manutenção do estado geral de insatisfação. Desta forma, percebemos que para a anoréxica, o que contraria o desejo é a satisfação ao nível da necessidade, é a invasão do sexual no orgânico, é uma forma radical do sujeito afirma seu desejo de comer nada.
Finalizando, podemos afirmar que a histérica vive inevitavelmente num estado latente de insatisfação, uma insatisfação que não se restringe unicamente ao registro sexual, mas que se estende para totalidade da vida, e que geralmente isto é feito de maneira dolorosa e sofrida. No entanto, a despeito desse sofrimento, a histérica agarra-se à sua insatisfação, porque esta lhe garante a inviolabilidade fundamental de seu ser. Quando mais insatisfeita ela é, mais protegida das ameaça de um gozo que para ela pode ser um risco de desintegração e loucura.
(Regina Fernandes)


sábado, 26 de maio de 2012

"Para Nietzsche, a arte é jogo, liberdade criadora, embriaguez e delírio, força afirmativa da vida; é " um estado de vigor animal", "uma exaltação do sentimento da vida e um estimulante da vida."
(Marilena Chaui, Convite a Filosofia, Editora Atica)

     
(Tarsila do Amaral)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Don Juan e o "Ficar com"


É imensa a dificuldade da minha geração em compreender a lógica dos novos tempos, pois para nós os termos ficar e sair são antagônicos, entretanto atualmente eles têm exatamente o mesmo significado. Ficar com, ou sair com, significam a mesma coisa. São termos usados para designar a atitude de se relacionar sexualmente, sem nenhum compromisso de continuidade.
Essa nova modalidade de se expressar me reporta ao personagem Don Juan, do filme Don Juan de Marco, com Marlon Brando e Jonny Depp, escrito e dirigido por Jeremy Leven. Don Juan é um personagem literário, paradigma do eterno sedutor, tido como símbolo da libertinagem. A figura de Don Juan além dos romances foi também cultuada na música, em obras de Strauss e Mozart, este último com a ópera Don Giovanni, composta em 1787. Aparece ainda na obra de Molière, em Le Festin de Pierre, no poema satírico de Byron chamado simplesmente Don Juan, no drama de Bernard Shaw, chamado Man and Superman.
Podemos dizer que Don Juan assinala um padrão de personalidade caracterizado por uma pessoa narcísica, inescrupulosa, enamorada, amada e odiada, para quem vale tudo na conquista de uma mulher. Foucault enfatiza essa questão ao dizer que Don Juan arrebenta com as duas grandes regras da civilização ocidental, a lei da aliança e a lei do desejo fiel.

E qual seria a ligação entre o filme e a conduta social nos tempos modernos?
Poderíamos dizer que a característica principal seria uma forte compulsão para a sedução que reflete uma estrutura social e um comportamento específico. Don Juan se apresenta com uma personalidade que necessita seduzir o tempo todo, que aparentemente se enamora da pessoa difícil, mas uma vez conquistada, a abandona. As pessoas com esse traço não conseguem ficar apegados a uma pessoa determinada, partindo logo em busca de novas conquistas. O “ficar com” caracteriza também um relacionamento compulsivo para a sedução, que não implica obrigatoriamente em nenhuma combinação ou contrato prévio, que é fugaz devido à provisoriedade da união. Não há compromisso de continuidade porque, ao menor sinal de interesse de um dos envolvidos no sentido de continuar, a relação se desfaz e é evitada. Nessa nova modalidade de relacionamento não há envolvimento amoroso, não há cobrança de compromisso.
A diferença marcante entre os dois comportamentos pode ser entendida pela palavra conquista. Com Don Juan vemos a figura do “príncipe encantado”, o homem sedutor que vem arrebatar sua amada com promessas de amor eterno. Ele tem habilidade em perceber rapidamente os gostos e franquezas de suas vítimas e, é igualmente rápido em atender as mais diversas expectativas.
Já o “ficar com..." não implica numa verdadeira conquista, pois é apenas uma afinidade recíproca, um não conquista o outro porque ambos estão, decididamente, com o mesmo objetivo em mente. “Ficar com” implica em essência e caracteristicamente, na ausência de sentimentos mais profundos de ambas as partes.
(Regina Fernandes)

terça-feira, 22 de maio de 2012


É preciso que imaginem as botinas... para que vocês comecem a ver as botinas de Van Gogh viverem, adquirirem vida em sua incomensurável qualidade de belo"....
(Jacques Lacan - A Ética da Psicanálise)                                

                                             As Botas - Vincent Van Gogh

domingo, 20 de maio de 2012

Os embaixadores, de Holbein.


Lacan no quadro Os embaixadores, de Holbein, aponta para um estranho objeto alongado no chão,que vem a ser um crânio deformado que somente pode ser enxergado quando o quadro é olhado de viés, pelo lado esquerdo. Lacan aponta , "no quadro sempre se manifesta algo do olhar” e que o pintor busca “a seleção de um certo modo de olhar". " A arte se caracteriza por um certo modo de organização em torno do vazio" ..." Toda forma de sublimação o vazio será determinante."
(Lacan, A Ética da Psicanálise)